Por Milene Costa
O luto é toda perda ou fim de algo significativo
A vida é marcada por fases que envolvem começos e términos, ganhos e perdas, inícios e fins. Nada permanece do que jeito que é para sempre. A impermanência é uma condição da nossa existência. Claro que sabemos disso abstratamente por meio de conceitos e ideias. Mas, ainda precisamos hospedar, na vivência, essa realidade. Viver é permitir a experiência do acolhimento do luto na nossa vida.
A casa enlutada é aquela que acolheu a perda, o fim, o término, a mudança que trouxe a ausência. Por isso, não podemos limitar o viver apenas numa perda física como a morte. Mas, ampliar a vivência de que a morte também pode ser simbólica quando envolve o fim de um relacionamento, a perda de uma oportunidade, a mudança de uma cidade, o fim de um ciclo da vida, as diversas idades que nos trazem perdas, a síndrome do ninho vazio com a saída dos filhos de casa e tantas outras situações que nos fazem sentir a dor que o fim daquele momento traz consigo.
Se a vida é marcada pelas estações, a casa enlutada experimenta o inverno que faz morrer, que nos enterra para melhor renascermos na próxima estação, como bem descreve Leloup em um dos seus livros. Por isso, é importante respeitar esse tempo dentro de nós. O recolhimento para hospedar, refazer, reorientar e discernir como será daqui para frente com essa mudança que chegou em nossa vida. Não é sábio fugir do sentimento que o luto traz, tais como raiva, por não conseguir alterar, a impotência, por não ter o poder de mudar, a culpa, por achar que poderia ter feito algo, o medo, por não saber como será daqui para frente e a sensibilidade extrema que nos convida a conexão com a vida.
A boa notícia é que a casa do luto não é eterna, pois a vida é marcada por fases. Então, se nossa fase neste momento é hospedar o luto, que nossa morada seja digna, como um tempo necessário para receber outras estações que chegam para nos ajudar a renascer e a ganhar novos olhares e perspectivas. O fim, por mais doloroso que seja, também passa. Por isso, precisamos viver a dor sem estacionar no luto, para, posteriormente, poder seguir em frente e encontrar um outro começo.
Boa semana!