Cuidado com os excessos para o bem ou para o mal

Tudo aquilo que passa da medida desequilibra a existência interior. Os excessos são práticas que, de alguma forma, negam nossa condição finita de existir. Não compreendemos a vida como uma forma de essência, onde cada um nasceu determinado a ser, mas entendemos a existência humana como um campo formativo, no qual cada um de nós constrói, mediante liberdade, vivência, referência, experiência e padrões de seu espaço existencial.

Quando refletimos sobre os excessos, indagamos o que em nós passou do limite e, de alguma forma, nos prejudicou ou fez mal a alguém de nossa convivência. Não podemos limitar os exageros apenas no lado negativo. Proteção demais, cuidado em extremos e amor que cria dependência também são excessos que, com o tempo, produzem mal estar nas relações. Até a bondade precisa criar espaço para a receber os frutos das ações realizadas.

Os excessos nos fazem sair do lugar que devemos ocupar e ultrapassar o limite do ser e do fazer, provocando, assim, todo tipo de adoecimento relacional. Primeiro, rompemos o limite que é nosso. Interiormente, existe um lugar que ocupamos dentro de nós mesmos que equilibra nossos prazeres, dores, anseios e esperanças. Depois, prejudicamos o lugar que ocupamos na relação com o outro. Devemos cuidar para não invadir o ambiente que o outro precisa para se desenvolver. Fazer tudo para alguém que amamos é privá-lo da autodescoberta de sua própria capacidade.

Produzir saúde relacional é estabelecer o espaço da falta, do vazio e da impossibilidade de ser tudo para todos. Deixando a necessidade ser sentida, estabelecemos espaços para que cada um se equilibre na sua contribuição e estabeleça as medidas que fortaleçam nossa condição finita de existir. Todo excesso cultiva a deficiência da autossuficiência.

 

Boa semana!