Por Milene Costa

É preciso parar a máquina humana que entrou no automatismo do ego

 

Talvez o que mais esteja nos assustando na época que estamos vivenciando é a incerteza diante de tudo que nos cerca. Onde está a verdade? Na avalanche das informações, o que é seguro? O que é fato e o que é fake News? Por que a negação e a mentira se tornaram prática relacionada ao que deve ser feito em nosso tempo? Se tudo está incerto e desnudado diante de nós, o que fazer?

Vivemos transformações sociais nunca experimentadas na história da humanidade. Uma crise de sentido e de valor. Certa descredibilidade de tudo que era creditado, estável, confiável, sagrado e seguro para nós. Nos encontramos perplexos, assombrados e ao mesmo tempo incrédulos frente aos absurdos, a banalização da vida, as reações sem medida de violência e, como um tsunami que leva tudo que era comum, nos deparamos com uma desconstrução imensurável da vida em todos os seus aspectos.

Metaforicamente, como um tipo de afogamento, tudo e todos jogam salva-vidas que não salvam mais. São discursos, palavras, conselhos, ensinamentos, dicas que não amparam nem ao menos as histórias pessoais. O afogamento coletivo no mar da incerteza nos leva a perguntar: e agora? O que podemos sentir?

A resposta não é fazer, nem saber, nem reescrever, nem ditar ou seguir o passo a passo. É parar a máquina humana que entrou no automatismo do ego e aprendeu a ver apenas através da necessidade individual. O caminho não é mais individual: a ética pessoal, da garantia privada, da subjetividade particularizada. Tudo que fazemos, escolhemos e somos afeta tudo ao nosso redor. Receber a incerteza em nós e em tudo que nos rodeia é a graça para desenhar novas histórias, como novos olhares, novos pensamentos e atitudes. Se a página volta a ficar em branco é para colocarmos novas cores e sabores nessa aventura de viver frente às incertezas. O certo nos separou, será o que incerto nos aproximará?