Por Milene Costa
A irritação é uma expressão da impotência
A irritação parece ser um lugar de grandes revelações sobre nossas expectativas, frustrações e impotências. Se a vulnerabilidade é condição da finitude, então, quando nos deparamos com questões inconvenientes que perpassam o universo de possibilidades que é a existência, um dos sentimentos que nos saltam é a tal irritação. Muitas vezes, a expressamos em frases como: “Ah não….”. Como se a vida fosse desejada apenas com os acontecimentos girando de acordo com os nossos interesses.
Dessa forma, vamos criando justificativas que abram espaços para nosso sentir diante das múltiplas escolhas além das nossas. A irritação, como sinônimo de raiva, ira e outros derivados da mesma expressão, é tida, em linhas muito preconceituosas, como algo proibido de sentir ou até mesmo reprimido. Entendida como fraqueza ou expressão animalesca daqueles que não se contém. A ira é abafada dentro de nós e, quando a expressamos, ela sai como um vulcão que entra em erupção, causando mais estragos do que se fosse identificada e trabalhada dentro de nós.
A irritação, como reação sensível diante da finitude de expressões essenciais do nosso ser, é lugar também de autoconhecimento. Sentir raiva, ira, irritação com situações, decisões, escolhas e até mesmo o desconhecido, é entender o quanto sonhamos, esperamos e desejamos algumas questões básicas de nossas crenças e anseios. A irritação é aliviada dentro de nós quando enfrentamos nossos desejos e não quando atacamos o outro. Deixar sair o que entrou, devido a nossa permissão imaginária de desenhar a vida apenas com uma parte sendo que ela engloba o todo, é um tipo de atitude sábia com a raiva.
Faz parte da existência sentir. A irritação é um sentimento que nos resgata, nos provoca desapegos e nos faz enfrentar ilusões. A raiva é um lugar de encontro e não desencontro. Uma raiva trabalhada dentro de si mesmo e liberada dentro de si mesmo, desafeta o outro da responsabilidade criada dentro de nós. A ira desorganiza o que estava fora do lugar para ficar visível o que precisa ser visto por nós. A irritação produz vida quando não tira a vida. É tempo de enfrentar nossa irritação.
Boa semana!