Por Milene Costa
Muitos sentimentos encontram espaço apenas na periferia do nosso ser
Margem é o espaço situado no limite, na borda, na periferia, distante do que é comum, habitual, padronizado e até mesmo aceitável. Conhecida geograficamente como lugar que ladeia rios, lagos, beiras e bordas, as margens são essenciais como demarcações sobre os limites de algum lugar. Quando refletimos sobre nossos sentimentos e pensamentos, alguns estão à margem da vida comum. Escondidos diante da imensidão que distrai o olhar. Mas, são as margens que nos levam ao centro.
Para muitas pessoas, a margem é um lugar desqualificado nas relações externas e internas. Uma marginal é sempre uma saída e um marginal é sempre aquele que está fora do que foi estabelecido ou aquele que não vive de acordo com o habitual. Marginalizar a existência que encontramos em nós é uma forma de exclusão da singularidade. Por incrível que pareça, é na originalidade que encontramos a expressão da multiforme graça de existir.
A margem é um espaço de menos. Quando nossos sentimentos mais nobres encontram lugar nas margens da nossa vida, experimentamos menos senso, menos credos, menos nós mesmos. Quando nossos pensamentos são colocados à margem, vivemos menos nós, com menos ideias e menos reflexões. Na periferia, há uma exclusão da vida e quando a história de cada um de nós fica na beira, na borda da existência nos perdemos de nós mesmos.
Na margem tem vida, tem nome, tem história, tem memória, tem verdade. Que possamos passar pelas margens da vida, descobrindo saídas para nossos encontros. Que todo tipo de marginalidade em nós, seja um reflexo dos nossos abandonos, uma realidade do que ainda precisamos recuperar. Saídas são chegadas. Margens são centros. Limites são excessos. Não vamos, portanto, desconsiderar as nossas margens, elas revelam muito sobre nossos centros.
Boa semana!